O primeiro filme foi o maior sucesso do ano no Brasil. Mas esta continuação não chega com o mesmo fôlego, começando pela ausência da dupla central Jim Carrey e Jennifer Aniston. SubstituÃdos por Steven Carell (desde então ele desistiu de usar o ‘n’ final que ficou famoso com o Virgem de Quarenta Anos) que fazia o papel secundário do apresentador de telejornal que acaba por falar tudo errado. O diretor é o mesmo Tom Shadyac, mas, em algum momento o projeto se desgovernou acabando por se tornar a comédia mais cara de todos os tempos - quando eles investiram em efeitos especiais -, chegando a gastar 175 milhões de dólares. Por causa disso, acabou sendo um fracasso mesmo chegando perto do 100 milhões de renda, uma das ironias da Hollywood atual.
É verdade que a continuação não é tão divertida quanto o original, nem tanto por causa do ator - o problema com Carell é que o personagem não é desenvolvido, não sabemos direito quem é, o que pensa, o que o une a famÃlia, ficando na superfÃcie e nem sempre dando uma impressão positiva de um sujeito que é vaidoso e com muita ambição. Agora Evan Baxter deixou sua profissão e se elegeu deputado (ou congressista como eles dizem) aproveitando para se mudar para um novo condomÃnio, numa mansão (quem faz sua esposa é a estrela da série de TV Gillmore Girls, Lauren Graham que acabou e não consegue registrar na tela grande). Na polÃtica, ele acaba sendo convocado por um chefe corrupto (John Goodman) que só visa lucro e não pensa na ecologia ou no aquecimento global. Aliás, quem tem as melhores piadas é a ótima Wanda Sykes que faz a secretaria do herói no que parece uma homenagem ao populista A Mulher faz o Homem (‘Mr. Smith Góes to Washington‘, de Frank Capra - 1939).
O problema começa quando sem explicações surge a figura de Deus (novamente Morgan Freeman) que pede a Evan que construa uma nova arca. A pressão é muito forte (surgem animais de todos os tipos, sempre em dupla, cresce a barba de Evan que também magicamente só consegue usar roupas de profeta) a ponto de deixá-lo cair no ridÃculo, com toda a mÃdia debochando dele. Até o final que é um festival de efeitos especiais não apenas com muitos, mas muitos bichos - mas também com uma catástrofe que se abate sobre Washington. É quando os realizadores não se contem e caem em louvações a Deus e a religião, de tal forma que o filme fica parecendo aula de catecismo em escola de crentes (não há duvida de que o estúdio não resistiu à tentação de atrair o mesmo publico que foi ver filmes religiosos recentes). Mas religião e humor dificilmente se misturam e aqui A Volta do Todo Poderoso demonstra o porquê.
Para ser justo, até provoca algumas risadas e não chega a ser desagradável. Mas, não nunca em proporções épicas que justificariam seu investimento. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 5 de outubro de 2007)