Crítica sobre o filme "Vidas em Fuga":

Eron Duarte Fagundes
Vidas em Fuga Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 19/11/2007
Em 1945 a atriz italiana Anna Magnani (1908-1973) viveu uma mulher alvejada pelos nazistas nas ruas de uma Roma bélica em Roma, cidade aberta (1945), obra-prima do italiano Roberto Rossellini; os gritos do pequeno filho da personagem, correndo para ela, clamando “mamãe, mamãeâ€, vão ecoar para sempre nos ouvidos do cinemaníaco. Em 1960 ela interpreta um filme americano, Vidas em fuga (The fugitive kind; 1960), de Sidney Lumet, onde sua criatura é assassinada no final por seu marido entrevado e ciumento.

Extraída duma peça de Tennessee Williams, a realização de Lumet exercita o gosto do realizador pelos embates teatrais. Lumet é um dos cineastas-padrão de Hollywood, sem grandes vôos artísticos mas também formalmente competente em seu profissionalismo. Oriundo da televisão e do teatro, Lumet gosta do exercício dos atores e de tentar criar uma tensão a partir dos diálogos. Suas imagens são sempre objetivas, translúcidas. Em cena em Vidas em fuga a italiana Magnani e o americano Marlon Brando se esforçam por carregar o filme nas costas; ela é a amarga dona de uma loja, ele saiu duma confusão de prisão e vem a ser contratado como trabalhador e outros serviços pela mulher: entre a amargura dela e o desconsolo entediado dele oscilam os sentimentos narrativos.

Lumet se esforça por segurar bem a barrar de seu filme, excessivamente dialogado e com diálogos nem sempre cinematograficamente adequados. A seqüência inicial, antes mesmo dos créditos, é um plano-seqüência fixo longo sobre o rosto de Brando onde uma voz-off de um juiz (ou delegado) está indagando a voz-in do ator que logo será liberado pela lei. Vidas em fuga têm tropeços narrativos exaustivos em face de sua construção demasiado teatral; as coisas o mais das vezes não funcionam do ponto de vista fílmico. Mas vale ver o filme por Brando e por Lady Magnani e pela elegância de filmar de Lumet. (Eron Fagundes)