Antes de ficar famoso e receber prêmios por Operação França e O Exorcista, o diretor William Friedkin fez sua reputação em versões competentes de peças teatrais. Retorna as origens com este drama, quase terror, na verdade muito mais próximo dos thrillers de Polanski. Uma produção modesta feita praticamente em um único set, baseada em peça de Tracy Letts (que fez também Killer Joe). A julgar pela reação da platéia não é filme para qualquer público. É preciso um espectador interessado em temas polêmicos para embarcar nesta história, que é muito bem fundamentada, com personagens bem armados e verossímeis, mas nem por isso agradáveis.
Ashley Judd nunca esteve melhor como atriz, do que como a frágil Agnes, que vive num motel no meio do deserto, sem conseguir esquecer o filho pequeno (que sumiu misteriosamente), e sem poder suportar o retorno do ex-marido, que bate nela, saído da prisão (o cantor Harry Connick Jr. todo bombado). Ajudada por uma amiga lésbica, ela fica conhecendo um sujeito misterioso, com quem passa a noite e acaba fazendo sexo (Michael Shannon, de Torres Gêmeas, Bem-vindo à Prisão, Lucky You, que veio da montagem original). Aos poucos, vai-se mergulhando num universo de paranóia esquizofrênica, quando eles são atacados por insetos (os bugs), que parecem fazer parte de uma incrível conspiração. O terceiro ato já é muito extremado, mas nem por isso deixa de ter impacto.
Os franceses adoraram o filme, que teve até prêmio da crítica na “Quinzena dos Realizadores”, em Cannes. Não é para tanto. Mas, rodado na Louisiana (pouco antes do Katrina), é um terror psicológico muito intenso e bem interessante. E o melhor momento de Ashley Judd no cinema. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 5 de outubro de 2007)