Não se dão ao trabalho de explicar o titulo (para isso é preciso que você assista ao trailer). Já supõe que estao falando com pessoas cultas e informadas e que entenderão a metafora sobre a cidade bíblica que cresceu demais e cada um passou a falar uma língua diferente e ninguém mais se entendeu. Mais ou menos como acontece hoje em dia num mundo que dizem ser globalizado. Mas que no fundo em muitos aspectos ainda é totalmente selvagem e primitivo. Com a única diferenca de que as noticias agora chegam mais rápido e um tiroteio no Marrocos pode abalar o resto do mundo via CNN, com consequencias inconcebíveis.
Babel é o projeto muito ambicioso do diretor Alejandro Gonzalez Inarritu, o mexicano que veio apenas de dois exitos anteriores, Amores Brutos/Amores Perros e 21 Gramas. Sempre associado ao roteirista Guillermo Arriaga, com quem na verdade se desentendeu durante a produção (ou seja, uma parceria encerrada). Na verdade, o filme de uma certa maneira impossibilitou a realizacao de outro um pouco semelhante de Fernando Meirelles que iria falar da intolerância em diversas partes do mundo, ainda mais porque o filme foi mal de bilheteria nos Estados Unidos (apesar de ter sido bastante lembrado pelos criticos e premios a partir do direção em Cannes).
Seu maior problema é o de sempre, não teve alguem com poder suficiente para dizer para o diretor que ele tinha que reduzir a metragem, cortar o supérfluo (como as cenas na discoteca e no parque com a garota japonesa). Tambem não entendi porque a necessidade de maquiar Brad Pitt para envelhece-lo, o que eh totalmente desnecessário e em nada ajuda sua relacao com a esposa na história, Cate Blanchett (os dois tem muito pouco a fazer no filme a quem so emprestaram o prestígio). Ainda assim tem bastante impacto a situação central, em que um casal Americano em férias no Marrocos esta fazendo uma excursão no interior, nas montanhas Atlas, quando a mulher americana leva um tiro perdido. A gente sabe quem atirou, dois garotos berberes que estavam experimentando com uma espingarda que ele conseguiu para matar predadores de seu rebanho. Mas os moleques levianamente atiram num ônibus, acertam na moça e de repente tudo aquilo se torna uma cacada internacional, um escândalo mundial, um impasse entre potencias. Na suspeita de ter sido um ataque terrorista.
A historia é contada de forma engenhosa, levando em conta sempre o fuso horario em diversas frentes. No Marrocos, onde o casal tem problemas para ser socorrido e se refugia num casbah. No Japão onde aos poucos vamos conhecendo o sujeito que deu o rifle de presente para um marroquino que havia servido numa cacaca (a enfase é maior na figura da filha adolescente dele, infeliz e suicida, depois da morte da mãe). E no México, para onde a empregada do casal levou os filhos num gesto de insensatez, para não perder um casal. Mas na hora de voltarem e passarem pela fronteira tudo se complica. Nem é preciso dizer que a seqüência mais eficiente é a mexicana ja que o diretor conhece melhor os elementos (que incluem Gael Garcia Bernal como o sobrinho bebado da empregada).
Babel é todo esse painel interrelacionado de forma bem esperta e inteligente, de maneira a provocar sempre um impacto na platéia. Que precisa ser atenta e paciente, o que infelizmente não se encontra com a freqüência desejada. Mas é um filme para não se perder. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 15 de fevereiro de 2007)