Rowan Atkinson anunciou que este seria o último filme de seu personagem Mr. Bean. Mas nunca se sabe, o tempo e a necessidade de dinheiro são capazes de tudo, ate ressuscitar mortos. E sempre os fãs podem mais. Tenho que admitir que eu gosto de Mr. Bean e assisto seus filmes com prazer mesmo quando não são grande coisa.
É verdade que Rowan envelheceu, esta com o rosto muito marcado e mais careteiro do que nunca. Mas o que importa. Aqui, ele resolveu fazer uma homenagem, quase uma paráfrase ao clássico As Férias do Sr. Hulot, de Jacques Tati (1953). Praticamente sem diálogos (ele pouco mais diz do que Gracias e Oui), conta-se a história de um britânico que ganha um premio numa rifa: uma viagem a Riviera Francesa. Claro que tudo dá errado (também complicado porque Bean é maldoso e faz algumas travessuras, além de ser confuso e atrapalhado). Chega a Paris, perde o trem, vai num restaurante fino e come frutos do mar (a piada das ostras parece ser ótima mas acaba não tendo o impacto devido), faz um outro passageiro perder o trem (e depois arrependido tenta socorrer o filho do sujeito, que fala alguma língua incompreensível para ele). Então junto com o garoto, tenta viajar pelo interior da França, passando por vilas (Aix) andando de bicicleta, dançando em feiras livres, atrapalhando uma filmagem e finalmente conseguindo uma carona com uma bela francesa que vai correndo até o Festival de Cinema em Cannes.
Só por curiosidade, certas cenas são rodadas na escadaria do Palácio do Festival e no saguão de entrada (mas a sala onde exibe o filme não é lá, assim como é efeito especial, a porta de saída que dá para a praia). Ali, com ironia brinca-se com diretores chatos e pretensiosos. Se o filme é irregular, nem sempre acertando no alvo, ele se redime com a seqüência final, encantadora, um número musical delicioso ao som do clássico La Mer, com Charles Trenet.
Neste show de Atkinson, há pouco espaço para outros embora o diretor tenha tentado se tornar inventivo usando sempre com recurso uma câmera digital de mão que Bean usa o tempo todo (o diretor Steve Bendelack veio da série de teve cult inglesa League of Gentlemen). Pode ver até a versão dublada (onde a única curiosidade é dublar a mocinha com sotaque como no original, fato raro em dublagem nacional). (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 20 de abril de 2007)