Duas coisas me incomodam em Atirador. 1) a debilidade de Mark Wahlberg como protagonista. Embora tenha tido uma absurda indicação ao Oscar de coadjuvante por Os Infiltrados ele não é ator o suficiente para segurar um personagem mais complexo que daria certo para um jovem Charles Bronson ou mesmo Stallone, que não eram bons atores mas eram carismáticos. Wahlberg nem isso. 2) A historia parece familiar demais e o publico esta sempre adiante da trama, adivinhando tudo. O herói que se revela tão inteligente depois não poderia cometer erros tão primários como deixar a moça que o ajudou sozinha só para ela obviamente ser capturada pelos bandidos e usada como troca!
A semelhança com Rambo é porque se trata de um bom soldado que é traÃdo por seus superiores e parte para a vingança pessoal. O filme advogado a teoria do vigilante, da justiça por suas próprias mãos do Velho Oeste, o que é sem duvida perigoso. Muito bem quando é feita por um herói correto com as idéias justas mas nada impede que isso seja feito também por débeis mentais, psicopatas, reacionários e assim por diante. Seria o fim da democracia organizada, por mais abalada que ela possa estar nos EUA. Portanto sua denuncia é bem interessante, mostrando que por trás do poder há hoje (e sempre houve, já que lembram o assassinato de Kennedy como semelhante) outros interesses poderosos que podem falar mais alto. Mas a solução é muito perigosa.
Seria bom explicar que o filme conta a historia de um atirador de elite Bob Lee Swagger que depois de servir na Ãfrica é traÃdo por seus superiores e deixado para morrer. Escapa (não se conta como) e vai para o interior morar nas Montanhas até quando é procurado por agentes do Serviço Secreto pedindo sua ajuda para evitar um atentado ao presidente americano. Qualquer criança percebe que é uma armação mas ele cai direitinho nela, sendo obrigado a fugir quase sem ajuda. No final das contas, quem o auxilia com relutância é um agente novato do FBI que é latino e não muito inteligente mas esforçado. O ator Michael Peña também é muito fraco e não colabora. Ainda assim, o filme é bem conduzido (poderia ser menos lento, mais curto e mais intenso) por Antoine Fuqua (Dia de Treinamento) e no gênero ação é interessante (curiosamente quem escreveu o livro original foi Stephen Hunter que é critico de cinema para o jornal Washington Post e ganhou até o premio Pulitzer. Depois disso já escreveu mais duas aventuras com o mesmo personagem). Demonstra que até a turma da pesada esta contra o atual estado das coisas. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 30 de março de 2007)