Crítica sobre o filme "Conquista da Honra - Edição Simples":

Rubens Ewald Filho
Conquista da Honra - Edição Simples Por Rubens Ewald Filho
| Data: 21/07/2007

Sai do filme admirado. Como Clint Eastwood é bom diretor. Como consegue trabalhar com um mínimo de recursos, economia narrativa e rapidez (é famoso por concluir seus filmes sempre antes do prazo previsto). Como sabe contar bem uma historia. Isso fica claro aqui neste A Conquista da Honra, um titulo ruim e errado para uma experiência rara em Hollywood, um projeto duplo, produzido por Steven Spielberg (que é fanático pela Segunda Guerra Mundial e havia comprado os diretores de adaptação do livro não ficção que deu origem aos filmes). Além deste, que conta o lado americano da luta pela possa da filha de Ivo Jima, tem Cartas de Ivo Jima, que mostra mais ou menos os mesmos fatos só que pelo ponto de vista japonês, totalmente falado naquela língua (curiosamente embora os filmes tenham sido rodados um após ao outro, não compartilham personagens ou atores).

Na verdade, este é o mais fraco e foi fracasso logo em sua estréia, fazendo com que o estúdio apressasse o lançamento de Cartas que teve melhores criticas e prêmios (este só teve indicação para melhor som e melhor mixagem!). Acontece que Clint com toda sua capacidade e talento não é perfeito. Deixou a escolha do elenco para uma velha companheira que por sinal morreu e a quem o filme é dedicado (Phyllis Huffman). Deve ter sido dela o erro de escolher o elenco errado e de Clint de não conseguir salva-lo (a experiência me ensina que quando se erra no casting depois é quase impossível remediar).

Nenhum dos três protagonistas é bom. Ryan Philippe beira o péssimo e o irritante. O nativo americano Adam Beach é inexpressivo e não tem carisma. E o ex-ator infantil Jessé Bradford, não tem o porte de um Tyrone Power com quem deveria ser parecido. Os coadjuvantes, incluindo o famoso Paul Walker, aparecem pouco e fica difícil identifica-los (a mesma coisa acontece com as mães dos falecidos). Ou seja, um filme desse porte sem atores que segurem a trama não funciona.

A historia esta longe de ser heróico e patrioteira. Muito pelo contrário, discretamente para um conversador como Clint, ele admite paralelos com a situação atual (o governo manipulando a opinião publica porque esta falido e precisa vender bônus) apresentando como a partir de uma foto tirada na tomada de Ivo Jima pelos americanos criou-se um movimento que tornou heróis três soldados sobreviventes (um deles teria sido identificado errado e nem na foto estava). Essa mesma situação já foi contada antes num filme muito bom mas esquecido chamado O Sexto Homem (The Outsider, 1962) de Delbert Mann, com Tony Curtis fazendo o personagem do nativo Ira Hayes, que irá acabar mal. Uma fita que deveria sair agora em DVD para ser reavaliada.

Basicamente não é conquista de honra coisa alguma mas justamente o oposto. O drama de três rapazes mal saídos da adolescência que de repente são transformados em heróis, quando nada fizeram demais a não ser levantar uma bandeira que renderia uma foto famosa (na verdade, houve mais uma bandeira como conta o filme!). E que mal conseguem suportar a pressão da repentina celebridade e a fama. O filme usa como narrador como no livro o filho de um dos rapazes, no caso James Bradley (que seria o filho de Ryan) que intrigado porque o pai não tocava no assunto resolveu investigar e daí saiu o best-seller.

Realizado em cores dessaturadas, perto do preto e branco (Cartas é ainda menos colorido!) o filme tem uma produção muito cuidada, com apenas algumas poucas cenas feitas no local verdadeiro (que hoje pertence ainda ao Japão) e maior parte numa ilha vulcânica da Islândia! A batalha é bem contada, com efeitos digitais reproduzindo os navios e soldados se alternando com detalhes da invasão e a surpreendente resistência japonesa. Só que é difícil se identificar com os anti–heróis, e a luta nem chega perto de Soldado Ryan.

Muito longo, com imagens autenticas dos personagens ao final, o filme não chega a empolgar e não deve atrair espectadores mais jovens. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 17 de fevereiro de 2007)