Já assistiram Antonia? Não falo da série da Globo que fez grande sucesso mas justamente do filme que lhe deu origem e que esta agora em nossas salas, numa daquelas bizarrices difíceis de explicar. Logicamente devia ter sucedido o contrário.

O fato é que Tatá Amaral (que revelou talento em filmes como Um Céu de Estrelas e Através da Janela, ambos barra pesadas) agora pegou mais leve e acertou em cheio, sem fazer concessões. Continua crua, humana, social, séria. Mas sem exagerar no retrato da pobreza, da vida na periferia (no caso, paulistana). Seu acerto maior é certamente nos fazer gostar e torcer pelas quatro protagonistas, todas sinceras e encantadoras. Sem deixar de mostrar seus problemas e mazelas. Na verdade, Antônia com acento é o nome de um conjunto vocal formado pelas quatro garotas (imagine a dificuldade de fazer testes com jovens amadoras e que ainda por cima cantassem?). As quatro meninas que cantam uma variante de Rap urbano se apresentam de forma modesta e caótica em bailes funks. Tem um empresário (Thaide) que acredita nelas, que são Preta (Negra Li), Mayah (Quelynah), Barbarah (Leilah Moreno) e Lena (Cindy). Mas surgem problemas e dificuldades (uma das mais humanas é o irmão gay de uma delas que é atacado na rua por um bando que mata o namorado dele, o que vem provocar a vingança).

Felizmente não se perde o alto astral, o sonho que não pode morrer e uma visão da realidade paulistana (posso estar errado, mas a impressão que me ficou é que filmes como estão dão uma visão menos complacente da vida marginal). Co-produzido por Fernando Meirelles esta é a primeira estréia nacional do ano que vale a pena ser conhecida. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 17 de fevereiro de 2007)