Crítica sobre o filme "Rainha, A":

Rubens Ewald Filho
Rainha, A Por Rubens Ewald Filho
| Data: 10/06/2007

Tinha tudo para ficar com cara de telefilme. Afinal o tema cheirava a sensacionalismo: contar pelo ponto de vista da Rainha Elizabeth II da Inglaterra, os dias difíceis em que passou a Monarquia, quando um acidente misterioso matou a ex-Princesa Lady Diana Spencer. Foi quando pela inabilidade da Rainha, um movimento contra a Monarquia poderia ter conseqüências imprevisíveis. Caso não fosse o papel do Primeiro Ministro (até hoje) Trabalhista Tony Blair que mesmo quebrando o protocolo resolveu interferir.

Mas há uma grande diferença que poucos acentuaram, a presença na direção do sempre excelente Stephen Frears, que em sua carreira tem uma série de grandes filmes (Ligações Proibidas, O Amor não Tem Sexo, Minha Adorável Lavanderia, Os Imorais, A Grande Família (não a brasileira), Liam, Alta Fidelidade) e que por este filme foi indicado ao Oscar (com toda justiça). Certamente ajudado por um excelente roteiro de Peter Morgan (também indicado ao Oscar® e que este ano também escreveu O Ultimo Rei da Escócia). O fato é que eles conseguiram o tom certo (mais curioso ainda porque Frears é anti monarquista!). Fácil era cair na caricatura, na sátira, na imitação barata, no melodrama, ou seja nos extremos, já que estavam falando de pessoas publicas, internacionalmente conhecidas. E se há uma personalidade discreta, sem uma característica marcante é a Rainha.

Daí o grande mérito do trabalho de Lady Helen Mirren, que certamente é a favorita do Oscar® (ganhou quase todos os prêmios agora e por sorte também este ano brilhou na televisão HBO fazendo outra Elizabeth, a Primeira). Sua interpretação é irretocável, dando uma dimensão humana a uma figura que poderia ser apenas banal, justificando o comportamento de uma mulher que podia passar por vilão. Também é muito elogiada a presença de Michael Sheen (não é parente dos outros Sheens mas um ator britânico que esteve como vilão em Diamantes de Sangue, Cruzada) e fez antes Blair num telefilme de Frears inédito aqui (The Deal, 2003). Blair como se sabe já teve prestigio e simpatia mas perdeu quando se aliou sem explicações lógicas ao presidente Bush na Guerra do Iraque.

O conceito do filme porém é muito simples. Observa-se a crise provocada pela morte de Lady Di, a reação popular e a Rainha querendo tratar tudo como se fosse um caso de família privado, nada ajudada pelo ranzinza Príncipe Philip.

Mesmo já sabendo a resolução da história, A Rainha ainda consegue interessar e mesmo comover. Concorre ainda aos Oscar® de trilha musical (do francês Alexander Desplat), figurinos e filme. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 17 de fevereiro de 2007)