Crítica sobre o filme "Filhos da Esperança":

Rubens Ewald Filho
Filhos da Esperança Por Rubens Ewald Filho
| Data: 31/05/2007

A reputação do diretor mexicano Alfonso Cuarón (E tua mãe também?, HarryPotter e o Prisioneiro de Azkaban) credenciava este ambicioso projeto de ficção cientifica roteirizado pelo autor do livro, P.D. James. Mas será difícil embarcar neste projeto de algumas surpresas e nem todas boas (o desaparecimento do personagem de Juliane Moore, depois de apenas algumas cenas é uma das decepções). Mais do que a historia, o que impressiona é a competência técnica da narrativa. Utilizando câmera na mão, ele coreógrafa estupendamente cenas de ação e tiroteio nas ruas, sem imitar Spielberg ou Soldado Ryan. Encena também de forma inovadora uma viagem de carro pelo interior que é interrompida por um assalto surpresa primeiro dos bandidos, depois da policia. Mas não consegue fugir dos clichês e banalidades da trama (chegando ao cumulo de colocar um navio ao final que tem o nome de “Amanhã”).

Não tenham duvida que para os diretores de cinema, o futuro é trágico. A ação se passa em 2027, quando a Inglaterra é um dos poucos países sobreviventes, mas ainda assim numa crise violenta com os emigrantes que são enjaulados e expulsos (a referencia ao comportamento americano em Guantanamo não fica distante). Existem uns poucos radicais guerrilheiros que lutam pela igualdade dos direitos mas a maior parte das pessoas vive na desesperança porque a humanidade se torna infértil (e a pessoa mais jovem do mundo, um argentino de 18 anos morreu numa baderna de rua). Ou seja, a humanidade vai acabar.

O herói é um burocrata, ex-ativista (o sempre confiável Clive Owen) que é forçado a ajudar uma jovem negra que está grávida (eles não querem revelar isso para o governo por vários razões nenhuma delas muito convincente). Assim, eles tentam fugir pelo país, com a ajuda do amigo de Owen mais um outro papel simpático mas dispensável de Michael Caie). Ou seja, basicamente o filme é uma grande fuga e perseguição, interessante pelo esforço de cenografia (Londres aparece apenas na seqüência inicial quando explodem uma lanchonete mas todos os prédios e ambientes são muito bem concebidos). Mas há excesso de lugares comuns, que comprometem a qualidade da direção e fotografia (o filme levou dois prêmios em Veneza, um deles merecido foi especial pelo trabalho do fotografo Emmanuel Lubezki, que apesar do nome, também é mexicano).