Este é o melhor filme do diretor Martin Scorsese nos últimos anos e também seu maior sucesso de bilheteria em todos os tempos (mais de cem milhões de dólares nos EUA). Tem grande possibilidade mesmo de lhe trazer o tão esperado Oscar de direção (também por ser um ano fraco). Certamente por causa do excepcional elenco que ele conseguiu reunir e o roteiro brilhante de William Monahan (que é natural de Boston onde se situa ação e escreveu antes apenas o ambicioso Cruzadas). O filme é inspirado num bom policial de Hong Kong que chegou a sair em DVD no Brasil chamado Infernal Affairs (e que teve duas continuações igualmente boas, que por sorte eu assisti porque trouxe os dvds de lá). Mas não há no original, por exemplo, o personagem de Jack Nicholson, assim passa a ser quase uma situação básica e não muito original, que serve de inspiração para o roteiro. Acho que a grande sacada foi situar a ação num fato real e não mostrado que é a Máfia Irlandesa que durante muito tempo mandou em Boston.
Antes de qualquer coisa, este é um dos raros filmes onde todos os personagens são convincentes, os atores estão todos ótimos e o final não apenas surpreendente mas faz sentido. Muita gente tem vindo me elogiar Leonardo Di Caprio dizendo que não gostavam dele por causa de Titanic e mais uma vez brigo com eles por confundirem personagem com ator. Ele sempre foi sério, dedicado e talentoso. Mesmo nos filmes anteriores dele com Scorsese (o fraco Gangs de Nova York e o interessante, mas irregular O Aviador). Aqui faz um certo Billy Costigan, que vai ser policial mas acaba aceitando uma missão difÃcil e muito especial tem que se infiltrar na quadrilha do maior gangster da região Frank Costello (Nicholson) sem despertar suspeitas. E com apenas uma pessoa sabendo da verdade, o chefe da policia (Martin Sheen). Por outro lado, o que eles não sabem é que a mesma situação esta sucedendo do lado dos bandidos que colocaram também um capanga dentro da policia e que agora lhes fornece (por celular) informações que evitam prisões e capturas de carregamentos de drogas. O traidor é Matt Damon (Como Colin Sullivan), um sujeito inteligente, sem escrúpulos, já criado desde criança nas ruas e na malandragem.
O filme consegue desenvolver em quase três horas (que não se sente), as razões e motivações dos personagens, a solidão de Di Caprio, a exibição de sinais de riqueza de Damon e a mulher que fica entre os dois (uma situação clichê disfarçada porque a atriz escolhida Vera Farmiga por Scorsese é muito talentosa como provou no filme independente e desconhecido aqui Down to the Bone, 2004).
Naturalmente Nicholson dá seu show particular, sem exatamente cair em excessos (embora exagero seja inevitável já que é o único tão carismático que pode se dar ao luxo de super representar). O personagem permite isso e é muito provável que várias frases e momentos do filme virem clássicas (como em Chefão ou Os Bons Companheiros).
Na verdade, já estou com vontade de revê-lo. Melhor sinal impossÃvel.
PS - Estava me esquecendo de reclamar do titulo nacional, que é feio e não quer dizer muito. Em inglês, The Departed (Os que Partiram) é poético e tem ilações religiosas. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 28 de novembro de 2006)