Esta certamente entre os melhores filmes brasileiros deste ano, se não for o melhor. É um acerto do diretor Cao Hamburger que até agora era lembrado por seu trabalho na produção infantil (Castelo Rá Tim Bum) e na elogiada minissérie da HBO Brasil (Os Filhos do Carnaval). Com produção de Fernando Meirelles, o filme é certamente o melhor “filme argentino†já feito no Brasil. Explicando: ele tem todas as qualidades que a gente admira no cinema argentino, embora seja muito brasileiro e também muito paulista. Ou seja, muito humano, sensÃvel, bom de ver e sentir. Como há muito tempo não se faz por aqui (ou será que nunca se fez tão bem?).
O próprio titulo também remete a outra influencia que são os primeiros filmes de Kusturika. A historia se passa em 1970, nos sombrios anos do Pra Frente Brasil quando um menino Mauro de 12 anos, é levado com pressa para a casa de seu avô no Bom Retiro em São Paulo, porque os pais oficialmente vão sair de férias. Não é preciso explicar muito porque esta evidente que eles estão fugindo e da policia polÃtica da Repressão. O problema é que o menino não encontra o avô (Pequena participação de Autran) que por infeliz coincidência morreu naquele dia, depois de passar mal com a noticia. Acaba sendo socorrido pela comunidade judaica, que o ampara, em particular um vizinho mal humorado que o vai iniciar nos mistérios da religião e tradição que ele desconhece. Basicamente é uma variante do tema do peixe fora d´água ou seja, uma pessoa de fora que é obrigado a conhecer e entender os hábitos de uma comunidade que desconhece (embora judeu o menino não foi criado na religião).
Muito ajudado por duas crianças muito bem escolhidas (o menino de olhos sensÃveis e a garota de rosto vivo e inusitado), o filme não insiste na polÃtica (Caio Blat faz um estudante universitário que conhece os pais dele) nem na comédia de costumes, nem exagera na alegoria do paÃs que comemora as vitórias na Copa do Mundo ignorando as torturas e as prisões.
Tudo faz parte de um painel muito bem orquestrado, sem sentimentalismo ou excessos, recriado em grande parte num prédio antigo de Campinas (já que o velho Bom Retiro mudou muito mas este ainda aparece em muitas cenas). O fato é que o filme fala diretamente ao coração e à mente.
Recomendo sem restrições. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 28 de novembro de 2006)