É possível que uma única cena venha a estragar um filme inteiro? É o caso desta nova comédia de Adam Sandler e seus asseclas, que conseguiram um script inteligente (de Steve Koren e Mark o´Keefe, ambos de Todo Poderoso), que principalmente na parte final consegue ser sensível e humano, até com um interessante lição de vida. Mas tiveram que botar a mão e acrescentar algumas piadas escatológicas, em particular uma de total grossura, imperdoável. Só para agradar os pré-adolescentes americanos que ainda se divertem com essas besteiras. Vai ver foi essa cena (que se passa num escritório com Hasselhoff de Super Maquina fazendo o chefe) que garantiu o êxito do filme nos EUA (onde chegou a 128 milhões para um orçamento de 70).
Depois de quase uma década de estrelato não se pode dizer que não se sabe o que esperar de Sandler, que sempre repete o seu tipo infantilizado (embora tenha chegado aos quarenta anos). Mas ao menos começa a sério, como um pai de família, Michael Newton, arquiteto que não tem tempo para os dois filhos, a mulher e as responsabilidades do trabalho. Até o dia em que numa loja especializada (fazem piada e merchandising com a famosa, Bath and Beyond) encontra um estranho vendedor que lhe fornece um controle remoto total que não apenas manda nos eletrônicos mas em sua vida. Ou seja, ele pode baixar o som das pessoas que falam demais, congelar cenas, usar fast forward, dependendo da situação. O que não deixam de ser uma idéia brilhante e que certamente todo mundo já sonhou em ter. Só que nada é perfeito. Quando ele corre demais, sua vida fica neutralizada e de repente se dá conta de que esta perdendo o melhor da vida. Ficou rico, famoso mas perdeu quase tudo que era importante.
Quem diria que Sandler faria uma historia existencial como esta, mesmo que com os ocasionais lapsos de gosto. Lembrando até A Felicidade não se Compra. É ajudado por um elenco melhor que costume, começando pela encantadora Kate Beckinsale (Pearl Harbor) como sua esposa. Ou seja, vale conhecer e perdoar as falhas se possível. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 15 de agosto de 2006)