O tema das relações sentimentais na velhice é uma ousadia diante da ferocidade jovem das bilheterias; é também um assunto que exige do diretor de cinema uma sensibilidade-limite para driblar uma certa pieguice do cotidiano que ronda as imagens destas figuras enrugadas e patéticas em que nos convertemos com o passar dos anos. O ator Roberto Bontempo, ao passar para trás das câmaras, escolheu a perigosa idade do fim para iniciar-se como cineasta em Depois daquele baile (2005); o ator-diretor teve a sabedoria de escolher para os papéis centrais intérpretes seguros de seu ofÃcio, como Irene Ravache, Lima Duarte e Marcos Caruso, que em momento algum se constrangem em viver diante das câmaras situações frÃvolas e algumas piegas, ao contrário permitem que as seqüências transcendam suas aparências de atos simplórios, lugares-comuns mesmo.
Depois daquele baile não traz nada de verdadeiramente novo para o cinema brasileiro; os estereótipos das personagens são delineados com superficialidade (Freitas é o mulherengo, Otávio é o romântico fora de moda, Dóris é a viúva envaidecida do amor-amizade dos dois homens), as possÃveis referências ao cinema do francês François Truffaut (Uma mulher para dois, 1961) se esvaem nas facilidades adotadas por Bontempo, que confunde sensibilidade com sentimentalidade. Podemos ver sem susto esta narrativa fácil de ser acompanhada graças ao talento dos atores, uma ou outra cena pode provocar no espectador uma catarse conforme a experiência de vida de cada um (o reencontro de Freitas com um filho perdido no passado pode ser uma destas cenas), mas em instante algum o filme explode ou promete perdurar na memória: é um filme onde a lembrança do observador tende a desmanchar-se no ar; assim como Dóris nunca se lembrará do baile de formatura que Otávio se esforça por evocar para ela, talvez a realização de Bontempo logo se perca entre tantas imagens que o cinemanÃaco é obrigado a carregar pela vida afora. (Eron Fagundes)