Crítica sobre o filme "Código Da Vinci":

Rubens Ewald Filho
Código Da Vinci Por Rubens Ewald Filho
| Data: 15/12/2006

Nem tudo que funciona nas páginas de um livro, dá certo numa tela de cinema. Embora o best-seller de Dan Brown tenha dado a impressão de que era muito cinemático (porque tinha capítulos curtos, personagens em constante fuga, unidade de tempo - tudo sucede em poucas horas - e muita violência), na verdade, a história se interrompia a cada tantas páginas, para explicações históricas e especulativas sobre fatos quase sempre pouco conhecidos do leitor do gênero. Ou seja, é simples voltar e reler. É mais complicado fazer isso num filme.

O fato é que O Código Da Vinci exige um espectador curioso e atento, disposto a raciocinar e tirar conclusões junto com os personagens. É quase um jogo cerebral - interrompido por ocasionais momentos de ação - sobre fatos esotéricos e polêmicos, talvez até heréticos. O espectador desinformado ou casual certamente terá dificuldade de segui-lo. Mas, em linhas gerais, é uma adaptação bastante fiel, simplificada nos lugares certos e que, de vez em quando, é interrompida por palestras sobre temas como Organizações Secretas, Cavaleiros Templários, a Organização Opus Dei e Maria Madalena.

O roteiro de Aviva Goldsman (que fez junto com o diretor Ron Howard o premiado Uma Mente Brilhante” / A Beautiful Mind - 2001), não procura humanizar ou aprofundar nenhum personagem, nem mesmo o herói Robert Langton (Tom Hanks, que utiliza um muito criticado penteado para trás), de tal forma que ele pouco faz além de decifrar alguns enigmas. Vira coadjuvante e suporte da verdadeira protagonista do filme, a francesinha Audrey Tautou (Le Fabuleux destin d´Amélie Poulain - 2001), que resulta encantadora e charmosa. De qualquer forma, os personagens são esquemáticos e utilitários, tendo a única função de levar a trama ao desenlace dito inesperado.

Porque o livro é um best-seller, as revistas e até diversos livros, têm tido o trabalho de dissecá-lo. Não quero revelar detalhes do enredo. Incomoda fazer um thriller que precisa de explicações e ilustrações a cada cinco minutos (Howard resolveu isso fundindo imagens como se fosse uma palestra high-tech, e também dando uma forma de vida ao raciocínio de Langton, em momentos-chaves).

Houve certa tentativa de contemporizar, a possível ofensa aos católicos (no final, Hanks ainda insiste que o importante é a fé, a crença, que não há problema em ser apenas humano). Mas os radicais não vão gostar.

Outra coisa que falta bastante ao filme é senso de humor (novamente, no último encontro com Sophie [Audrey Tautou], há uma tentativa). O fato é que, brincar e especular sobre a vida de Jesus Cristo não é fácil, ainda mais fazendo tanto sentido e por mais que disfarçados, os ataques são evidentes e vão ao cerne da Organização e dos Dogmas. Mas não há duvida que a idéia da Divindade Feminina Pagã e toda sua trajetória são fascinantes.

Enfim, este não é o lugar para se discutir isso. Cinematograficamente o filme cumpre sua função, mas como disse o crítico Todd McCarthy, certamente Hollywood jamais pensaria em fazer um filme sobre essa história, caso ela já não fosse um tremendo best-seller. Excessivamente dialogado, com elenco fazendo apenas o básico, com alguns momentos difíceis de acreditar (melhor na página do livro, novamente), acho que a melhor coisa do filme é seu esplêndido uso de locações européias, sejam castelos, sejam igrejas. Mas principalmente o Museu do Louvre, que abriu suas portas para o projeto (que irá lhe render milhões de turistas) e que é utilizado da maneira mais inteligente e eficaz.