Vamos começar pelas coisas ruins. Esta refilmagem do recente O Destino de Poseidon (1972) da Fox é sem duvida alguma desnecessária, até mesmo porque depois ouve uma espécie de continuação que era mais refilmagem (Dramático Reencontro no Poseidon, 79, com Michael Caine e Sally Field) além de uma versão feita para a teve aberta em 2005 (The Poseidon Adventure) com Rutger Hauer e Steve Guttemberg. Ou seja, como em King Kong, todo mundo acha que já viu este filme e conhece a história. O fato de existirem novos recursos de efeitos especiais não chega a ser desculpa. Até porque desde que a fita estreou nos EUA em 12 de maio não chegou a mais de 46 milhões de dólares muito distante de seu orçamento de 160 milhões. Ou seja, foi um mega fracasso.
A refilmagem segue os princÃpios básicos do primeiro. É numa noite de reveillon em que acontece a tragédia com o navio Poseidon, que de uma certa maneira foi premonitória do que depois sucederia com o Bateau Mouche no Rio de Janeiro. No caso, o navio transatlântico que levava o nome do rei dos mares esta tendo uma grande festa a bordo, quando é vitima de uma grande e inesperada onda, um verdadeiro tsunami. E o navio é virado de lado e um grupo de sobreviventes tenta escala-lo para sair pelo buraco da hélice. O público sempre teve fascinação por histórias de tragédias e catástrofes, por isso o filme original criou a moda que passou a ser chamada de disaster movie (fita catástrofe). Quem era o mestre do gênero era o produtor Irwin Allen (1916-91), que também fez Inferno na Torre e na televisão series como Perdidos no Espaço e Viagem ao Fundo do Mar. O diretor aqui é o competente alemão Wolfgang Petersen de Mar em Fúria e Tróia. E o elenco tem gente conhecida mas que não faz parte do time A como Kurt Russell, Josh Lucas, Richard Dreyfuss, Emmy Rossum (Fantasma da Ópera). Ou seja, também nisso é inferior.
Agora que você está convencido que o filme é uma porcaria, a boa nova. Ele é muito melhor do que se podia pensar. Muito bem produzido, bem realizado, embora não tenha uma cena memorável como a do primeiro (aquela com Shelley Winters, que lhe valeu indicação ao Oscar®). Mas é tenso, objetivo, até eficiente. Tem algumas seqüências assustadoras e que deixam a gente sem fôlego (uma terrÃvel em que eles tem que passar por um estreito túnel de respiração e outra que são obrigados a nadar um trecho longo debaixo d´água). Vários dos atores centrais morrem no percurso e o detalhe mais curioso do elenco é que Dreyfuss faz o papel de um gay que foi abandonado por seu namorado que por isso vai se suicidar quando vem a onda (ele quer recado num celular no meio do oceano e com fuso horário diferente? Será que não espera demais?). Enfim, é tudo tão discreto que mal se percebe na mudança de um artigo (o diretor também é gay). Se é verdade que os personagens não tem tempo para se expandirem humana e deixarem sua marca, nada impede porém que o filme mereça melhor destino.
Não devia ter sido feito mas já que o produziram, esta versão é bastante boa. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 28 de junho de 2006)