Numa fase muito fraca em lançamentos nacionais, este A Máquina é a exceção. Não assisti à lendária montagem teatral, que ficou famosa porque revelou toda uma geração nova de atores baianos: Lázaro Ramos, Vladimir Britcha, Wagner Moura. Sem esquecer do casal João e Adriana Falcão. Todos eles reunidos aqui, numa adaptação bastante feliz (um detalhe: dizem que a peça era ainda melhor. Mas pode ser também memória nostálgica e enganosa).  O fato é que, o que parecia ser um evento eminentemente teatral, acabou dando certo (fui presidente do júri de um Festival em Goiânia, onde o filme levou quatro prêmios, inclusive melhor filme).
Tudo é construÃdo como uma alegoria, uma fantasia bem-humorada, em que se conta a história de um nordestino que acredita ser protegido pela chuvas ou elementos naturais. Vindo de famÃlia numerosa, vive numa cidadezinha (bem reconstruÃda em estúdio), onde sonha com o amor de uma garota (Mariana Ximenes, muito bem, aliás como todo o elenco). Isso o faz ir até o Rio de Janeiro, onde acaba fazendo um programa de TV sensacionalista, onde garante ser capaz de viajar no tempo, sob pena de morrer esmigalhado por uma máquina.
Toda essa história é contada por uma voz off, que se descobre depois pertence a um velho, que vive num asilo de loucos (Paulo Autran, magnÃfico, num de seus melhores momentos no cinema), e conta o caso para outros colegas de loucura. Ou seja, já não há compromisso com a realidade.
No palco, os atores faziam vários papéis, e confirmavam sua versatilidade. Aqui o mocinho é o recifense Gustavo Falcão (sobrinho do diretor; que, se desincumbe bem do papel), enquanto os hoje famosos fazem papéis menores: Wagner Moura, o apresentador de TV, Lázaro Ramos, um dos loucos, e Vladimir Britcha, um rapaz conquistador da cidade. Não há falhas, todo mundo está bem, tudo funciona e o filme chega a ter um aura de encanto e fantasia, meio realismo fantástico, que resulta encantador.
O público deve gostar. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 28 de março de 2006)