Crítica sobre o filme "Quando um Estranho Chama":

Rubens Ewald Filho
Quando um Estranho Chama Por Rubens Ewald Filho
| Data: 18/08/2006
Se você tiver a sensação de já ter visto este filme antes, é simples: é provável que sim, que alguma vez você já tenha esbarrado neste terror/suspense, feito antes em 1979, e depois refeito para a TV em 1993 (o primeiro homônimo tinha alguns momentos de legítimo suspense, com Carol Kane, e aquele roteiro é creditado aqui como origem desta versão).

De qualquer forma, a história não é original, e houve variações dela desde “Sorry, Wrong Number†(A Vida por um Fio), com Bárbara Stanwyck, sendo esta a mais notável (ela houve, por engano, uma ligação onde planejam seu assassinato, tenta pedir socorro, mas é em vão). Dizem que teria sido inspirada inclusive, em uma lenda urbana.

A diferença desta versão é que ela é praticamente toda rodada numa mansão ultra-moderna, isolada, onde novamente uma heroína se comporta de maneira idiota, fazendo tudo errado. A direção é de um sujeito que começou fazendo filmes importantes (A Filha do General, o primeiro Lara Croft e Con Air) e agora está decaindo. Mas ele tem habilidade artesanal, e cria certo clima (deixa sempre a moça enquadrada com alguma figura ameaçadora por trás, deixando sempre o espectador inquieto, embora evite sustos fáceis).

A protagonista é a interessante Camilla Belle (que tem olhos caídos como os de Liza Minnelli, ou de um palhaço), que foi revelada em “The Ballad of Jack and Roseâ€, mas que nem sempre consegue segurar as situações de terror constante. A história é a de sempre: uma estudante tem que trabalhar de babá, para pagar uma dívida (no caso, seus pais, rígidos, exigem que ela cubra um excesso de despesa com seu celular, tirando-lhe o aparelho, o que é necessário para a trama, que por sinal também elimina, quase sempre ao menos, a utilidade dos binas, identificadores de chamadas). O roteiro não chega a ser ruim, até porque o filme é curto, a casa é muito interessante, cheia de obras de arte moderna, e também com um aviário no centro. A figura do criminoso (sugerido, num pequeno prólogo), também mal chega a ser vista, até o plano quase no final (bastante eficiente).

O filme foi bem de bilheteria, custou apenas 15 milhões de dólares e rendeu 27! (mas aqui, a sala em que assisti, sábado, estava vazia), o que demonstra que foi eficiente em segurar a atenção, sem apelar para excessos de violência ou recursos banais (fora o uso de um gato preto e de uma amiga que aparece, absurdamente, naquela casa fora de mão, só para termos mais uma vitima para assustar).

E tem mesmo, certo estilo. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 18 de abril de 2006)