Crítica sobre o filme "Memórias de uma Gueixa":

Rubens Ewald Filho
Memórias de uma Gueixa Por Rubens Ewald Filho
| Data: 29/06/2006

O que poderia ter sido um filme notável, acabou sendo sabotado por uma série de equívocos. O maior deles certamente foi a escolha do elenco. Como os americanos não tem a menor noção (ou interesse) pelo estrangeiro, não são capazes de distinguirem entre o que é um chinês ou um japonês. E não pensaram que as duas nações não se gostam (restos da Segunda Guerra Mundial e de Guerra entre eles, e de conflito anterior entre ambos, quando os japoneses foram terrivelmente violentos e sanguinários). E aí colocaram nesta história muito japonesa, atrizes basicamente chinesas (embora Michelle Yeoh seja da Malásia). Resultado: o filme esta proibido na China (com a desculpa de que tem cena de sexo forte) e não fará carreira boa no Japão.

Não duvido que esta decisão tola tenha sido do produtor Steven Spielberg que iria dirigir o filme, mas que o passou para Rob Marshall como seu primeiro trabalho desde o premiado com o Oscar®, Chicago. Que fez um trabalho visualmente caprichado. É um filme belíssimo, com esplendida fotografia, uma belíssima trilha musical (e por isso mesmo foi indicado aos Oscar® de direção de arte, fotografia, figurinos, trilha musical, som, edição de som). E boas interpretações (todas as mulheres estão super competentes embora Ziyi Zhang não tenha conseguido ser indicada ao Oscar® de atriz).

O fato é que o resultado acabou sendo um filme indicado e compreendido pelas mulheres (como diz nos EUA, um “chick flickâ€, filme de meninas). No qual os homens não conseguem penetrar nem que seja para resolver a antiga duvida: serão as geishas prostitutas? Segundo o filme, a resposta é: mais ou menos. São uma espécie de cortesãs que podem liberar seus favores sexuais, mas sua função principal é fornecer conversa, companhia, diversão e alguns momentos de relaxamento fora dos compromissos profissionais e da rotina de casa.

Escrito por um sujeito do Tennessee Arthur Golden (ou seja, não foi um japonês, nem sequer um oriental), o longo livro se tornou best-seller. A versão para a tela, sumariza em 145 minutos o drama da heroína, Sayuri que é vendida por sua família para uma casa de Geishas, onde começa como aprendiz mas é perseguida por uma outra, a mais importante da casa (feita por Gong Li, com um curioso paralelo na vida real, Gong de certa maneira é mesmo a rival de Ziyi que tomou seu lugar no coração do diretor Zhang Yimou e também seu espaço como a maior estrela da China). Sofre muito, chega a ser expulsa do lugar, também porque se apaixona romanticamente por um homem mais velho que encontra um dia num parque (Ken Watanabe, de O Último Samurai). Até que um dia vem a Segunda Guerra Mundial e acaba aquele sistema de vida.

Nada realista, estilizado, sem lidar com qualquer situação política, o filme não chega a ter um alcance muito grande e duvida que seja descoberto aqui pelo publico feminino ainda mais diante de tantas opções do Oscar®. Mas fica a dica. Elas vão gostar e entender melhor o que para outros é apenas um filme bonito. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 07/02/2006)