O cinema brasileiro tem tido dificuldade de encontrar um filme de qualidade, que faça sucesso no exterior e em Festivais e que ao mesmo tempo tenha uma presença importante de público (basta dizer que os vencedores de Gramado 2004, nem mesmo o melhor filme, chegaram a ser lançados até agora). Esta pode ser uma opção como filme polêmico e premiado (levou seis prêmios em Brasília). É muito bem interpretado, tem uma excelente trilha musical nostálgica (revista por Fernanda Porto) e evita muitos exageros de violência e tortura que prejudicam a denúncia dos anos de chumbo da Ditadura.
Quem dirige é Toni Venturi, que depois do documentário O Velho sobre Luiz Carlos Prestes (disponível em DVD), fez outro filme em ambiente fechado, Latitude Zero (também com sua talentosa mulher Débora Duboc). Aqui praticamente toda a ação se passa num apartamento do centro de São Paulo, no começo dos anos 70, onde se refugia um homem envolvido na luta armada (o ainda desconhecido mas eficiente Leonardo Medeiros). Seu chefe é uma figura misteriosa que aparece de vez em quando (Jonas Bloch) e sua ligação é com uma filha de operário comunista que serve de enfermeira e faxineira do apto (Débora) que pertence a um colaborador de boa vontade (Michel). Mas o cerco aumenta e a situação se agrava. O orçamento limitado não chega a incomodar porque a narrativa é moderna, há momentos para respirar (externas como um piquenique na cobertura do prédio) e um entreato lírico (com a vizinha espanhola feita muito bem por Bri Fioca).
Não se pretende uma analise mais profunda da época ou situação. Apenas relembrar uma época triste de forma até alegórica (como no final arrebatador). Não sei se irá atingir o espectador não informado, provavelmente não. Mas é sem dúvida o melhor da safra.