Crítica sobre o filme "Crônicas de Nárnia, As: O Leão...":

Rubens Ewald Filho
Crônicas de Nárnia, As: O Leão... Por Rubens Ewald Filho
| Data: 16/05/2006

Quando aconteceu o fenômeno O Senhor dos Anéis, todos os estúdios correram atrás de uma franquia parecida, que tivesse o mesmo potencial de continuações e um clima de fantasia semelhante. Foi assim que a Disney chegou até esta antiga história infantil, adaptada antes apenas como animação, escrita justamente por C.S.Lewis, que foi amigo e, depois rival do autor de “Anéis†J.R. Tolkien. Tanto, que a expectativa é de que a fita tenha sete episódios (e não saia logo, porque ao final tem um adendo que abre a porta para isso). Antes de tudo, é bom dizer que a semelhança com aquela trilogia é vaga e muito relativa.

O apelo desta superprodução de 180 milhões de dólares, rodada também na Nova Zelândia, é basicamente infantil. Tem pouca ação, quase todos seus personagens são bichos animados, e a história não vai agradar ao público masculino adulto. Não tem romance nenhum, o que também deixa de fora o público feminino. Tem muito pouco senso de humor (os únicos personagens com essa função, a família de castores, desaparecem). E essa tentativa de vender o filme para as comunidades cristãs, é uma balela. Apesar do autor ser “cristão†fervoroso, o que ele fez foi apenas criar algumas referências vagas (o Leão, como o Leão de Judá, a traição como Judas, a Ressurreição). No fundo, é apenas uma antiquada história de Bem versus Mal, não especialmente empolgante, nem memorável. Não acredito que alguém tenha saido do cinema dizendo: “Mal posso esperar pela continuaçãoâ€, como tem sucedido com Harry Potter.

A ação se passa durante a Segunda Guerra Mundial, quando 4 crianças inglesas são deslocadas - por causa do bombardeamento em Londres - para o interior, indo para um castelo de um cientista professor (outro personagem mal desenvolvido) onde, por acaso, entram por um armário para a terra desconhecida de Nárnia. A menina Lucy/Lucia (a melhor do elenco, a garotinha Georgie Henley) é a primeira a atravessar o mistério e fazer amizade com um fauno, que é contra a Rainha da Neve, ou a Feiticeira (a inglesa Tilda Swinton, que está menos marcante do que costume, em papel que Nicole Kidman largou). Uma mulher fria e cruel, que transforma os inimigos em estátuas de gelo. Aos poucos, os irmãos se reúnem a Lucy e acabam tomando posição contra a tirana já que, de acordo com uma antiga profecia local, o dia em que 2 filhas de Eva e 2 filhos de Adão, ou seja humanos, chegassem ao Reino, haveria uma revolta.

O mais interessante de toda a história (o livro, na verdade, é muito sucinto) é o desenvolvimento da relação entre irmãos, já que o garoto mais novo, Edmundo é problemático, tem rivalidade com o mais velho e sente a falta do pai. Isso justificaria sua traição, se tornando informante da Feiticeira, e depois causando vários problemas. Também é curioso colocar a irmã mais velha como dona da verdade e, no fundo, uma chata. Mas há poucos incidentes (uma fuga pelo gelo, onde a água gelada parece não ter efeitos sobre eles, um encontro fora de hora com Papai Noel - que parece ter vindo de outro filme - e, finalmente, uma batalha campal). A figura mais imponente é a do Leão, Aslam, chefe da oposição (voz de Liam Neeson), que protagoniza o momento mais polêmico do filme. Enfim, não dá para dizer que o filme seja aborrecido.

O trabalho do diretor Adamson (que veio de Shrek e Shrek II!) é apenas profissional, sem maior inspiração. Resta ver se existe um público para ele, mas a abundância de cópias dubladas confirma para quem ele foi feito: menores de idade. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos em 15 de dezembro de 2005)