Crítica sobre o filme "Flores Partidas":

Rubens Ewald Filho
Flores Partidas Por Rubens Ewald Filho
| Data: 11/04/2006

Nunca fui fã de Jim Jarmusch, nem de seu estilo minimalista que foi abraçado nos anos 80, até por falta de opções. O tempo fez ele se repetir em experiências não mais que curiosas (os filmes que fez com Roberto Begnini, a série de curtas com cigarros) que acabaram deixando-o num segundo plano de importância, interrompido ocasionalmente por fitas como esta, que são badaladas pelos antigos fiéis.

Desta vez ele foi escolher Bill Murray, justamente num momento em que seu estrelato está cansando. Houve um tempo em que o achava muito divertido, com sua cara de pau, sua ausência de reflexos, cada vez fazendo o mínimo possível. Mas ele realmente está cansando e explorando seu personagem até os limites. Aqui, ao menos ele está cercado por mulheres interessantes, numa história que é velha (em 1980, Joan Tewsbury fez “Old Boyfriendsâ€, que tinha o mesmo ponto de partida, desde então usado em outros telefilmes). E muito mal concluída.

Bill faz um cinquêntão apático, num personagem escrito especialmente para ele, chamado Don Johnston (piadinha recorrente porque o confundem com o ator que é Johnson!). Vive meio jogado, confraternizando com o vizinho negro (o ótimo Jeffrey Wright) que o ajuda num plano logístico quando ele desconfia que tem um filho agora adulto, de uma das ex-namoradas. Mas não sabe quem, nem quando. E então sai pelos EUA buscando reencontros. Julie Delpy está irreconhecível como a namorada mais recente. Sharon Stone funciona como a ex mais liberal (e que tenha uma filha que faz jus ao nome de Lolita), Francês Conroy (de A Sete Palmos) é uma que casou e virou careta, nova cristã. Jéssica Lange tem uma profissão inusitada, é psicólogo de animais (diz que escuta os bichos). Tilda Swinton é a que o recebe mais agressivamente vivendo numa comunidade esquisita.

De qualquer forma, o filme seria uma viagem de autodescobrimento. Mas isso está mais no resumo da imprensa do que na tela. Porque Jarmusch usa muitas canções, cria as situações mas nunca vai fundo, nem muito adiante. Tudo é engraçadinho, razoável, mas mesmo do que se espera, menos do que o público gosta de sentir e reagir. Até por causa do final (não quero comentar mais para não estragar o possível impacto).

Enfim, o fato de ter ganhado o Grande Prêmio do Júri no ultimo Festival de Cannes só demonstra como o Festival foi fraco este ano. (por Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 6 de dezembro de 2005)