| Data: 06/05/2005

Os realizadores italianos Paolo e Vittorio Taviani, que na verdade formam um caso único de personalidade cinematográfica inteiriça formada por quatro mãos, pertencem àquela concepção estética que o crítico francês Guy Hennebelle, em seu livro Os cinemas nacionais contra Hollywood (1976), define como “o neo-realismo tardio�. Certamente influenciados pelo cruzamento dos estilos de Roberto Rossellini e Vittorio De Sica, cujo pico neo-realista se deu nos anos 40 e 50 do século passado, os Taviani mostraram uma obra muito pessoal dentro do cinema moderno.

Aconteceu na primavera (Fiorile; 1992) é uma das muitas amostras de seu talento para expor suas histórias em imagens. A sensibilidade visual dos Taviani torna a ser encontrada. Há um cuidado fotográfico que se transforma lentamente numa poesia pictórica digna de encantar o observador. A delicadeza dos movimentos de câmara e da condução dos atores produz achados a todo o momento.

E os Taviani oferecem a seus admiradores uma narrativa complexa que nunca desdenha da simplicidade. A elaboração do ato de contar uma história é ofertada ao espectador numa bandeja que oculta seus artifícios e é puro despojamento. Alternando admiravelmente as épocas (um pai conta a seus filhos certos mistérios ancestrais da família durante uma viagem de carro em que vão visitar o avô; e neste contar as imagens cruzam épocas, dos tempos napoleônicos às guerras do século XX; e neste contar se fundem histórias de amor impedido, injustiças e mortes familiares), os Taviani fazem de Aconteceu na primavera um novo poema cinematográfico, sedutor e profundo como é habitual sair de sua câmara. (Eron Fagundes)