Sabe-se que Cayatte era um advogado apaixonado. Tentou transmitir sua vibração jurídica a obras de tese, como Somos todos assassinos. Ele retrata os criminosos mais indefensáveis e, mesmo assim, conclui pelo absurdo da pena de morte. Ideologicamente, Cayatte pode até ter razão. Quando, no fim, o advogado dum dos facínoras, que espera pela indulgência presidencial (o filme vai acabar e o espectador desconhece a resposta do Presidente), leva para a casa de seus pais o irmão menor de seu cliente, Cayatte parece dizer-nos: cuidemos da infância para termos um mundo menos violento e mais são.
É um acerto de contas do diretor-advogado com a sociedade de seu tempo: que talvez não difira muito da de hoje. Mas a forma cinematográfica utilizada por Cayatte peca muito em seu viés moralista, retrógrado e acadêmico. (Eron Fagundes)