Crítica sobre o filme "Somos Todos Assassinos":

Eron Duarte Fagundes
Somos Todos Assassinos Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 04/10/2005
Ao ver Somos todos assassinos (Nous sommes tous des assassins; 1952), estranho libelo cinematográfico contra a pena de morte rodado pelo francês André Cayatte, o observador, desde as imagens iniciais, sente a dureza formal do cineasta, as características postiças de seu pensamento narrativo, um rigor estilístico ultrapassado e decadente a que só se pode assistir como uma peça de arqueologia fílmica, esquecendo-se qualquer prazer estético mais apurado e hodierno. Merecidamente massacrado pelos críticos de cinema que depois foram para trás das câmaras fundar a “nouvelle vague” francesa, Cayatte é tudo o que há de execrável numa encenação tão bem feitinha e limpa que chega a entorpecer a criatividade.

Sabe-se que Cayatte era um advogado apaixonado. Tentou transmitir sua vibração jurídica a obras de tese, como Somos todos assassinos. Ele retrata os criminosos mais indefensáveis e, mesmo assim, conclui pelo absurdo da pena de morte. Ideologicamente, Cayatte pode até ter razão. Quando, no fim, o advogado dum dos facínoras, que espera pela indulgência presidencial (o filme vai acabar e o espectador desconhece a resposta do Presidente), leva para a casa de seus pais o irmão menor de seu cliente, Cayatte parece dizer-nos: cuidemos da infância para termos um mundo menos violento e mais são.

É um acerto de contas do diretor-advogado com a sociedade de seu tempo: que talvez não difira muito da de hoje. Mas a forma cinematográfica utilizada por Cayatte peca muito em seu viés moralista, retrógrado e acadêmico. (Eron Fagundes)