É incrÃvel como os Irmãos Farrelly mudaram. Seus últimos filmes perderam o clima de baixaria de Quem Vai Ficar Com Mary? Ficaram suaves, doces, românticos e, infelizmente, menos engraçados. Também têm sido menos bem-sucedidos nas bilheterias.
Como é o caso deste Amor em Jogo, uma comédia romântica sem nenhuma grossura e muita água com açúcar. Uma fita de muitos méritos, o maior deles a presença de Drew Barrymore, que nunca esteve tão magra, bonita e encantadora. Mas para brasileiro, tem um obstáculo intransponÃvel: é sobre beisebol, que nossa gente não entende nem gosta. Mais que isso, é sobre um fanático torcedor de beisebol e os problemas que isso causa para sua vida romântica.
Originalmente a história é baseada num livro do inglês Nick Hornby,que virou cult graças ao público que conquistou com Alta Fidelidade e Um Grande Garoto. Só que Nick é fã de futebol, mais precisamente do time do Arsenal, e escreveu sobre o fanatismo por esses times (a história foi filmada em 97, com roteiro dele, como “Fever Pitchâ€, com Colin Firth, mas o filme foi pouco distribuÃdo, como Febre de Bola). A idéia dos Farrelly foi transpor a ação para os Estados Unidos mudando também de esporte, preferindo o Red Sox de Boston, justamente um time que não ganhava um campeonato há mais de cem anos. Numa situação incrÃvel, o filme deu sorte a eles e o Sox sagrou-se campeão (e por isso tiveram que mudar o final da história, já que estava previsto outro!). Acontece que para o fã do esporte, há amor demais e pouco beisebol, o que pode explicar seu medÃocre desempenho nas bilheterias americanas (custou 40 milhões, rendeu 42!). Mas usando um roteiro da experiente dupla Lowell Ganz e Babaloo Mandel (Parenthood, Splash, Esqueça Paris), o filme consegue contar uma simpática história de amor, com reviravoltas, diálogos espertos, sacadas divertidas e todos os clichês do gênero.
Assiste-se sempre com um sorriso nos lábios a história do professor de escola do 2º Grau (o comediante do “Saturday Night Liveâ€, Jimmy Fallon, bem melhor do que em Táxi), que se apaixona por uma executiva bem-sucedida (Drew). Mas o beisebol preencheu sua vida toda, então fica difÃcil deixar entrar uma mulher. Mais difÃcil ainda para ela, que fica sempre num plano secundário quando o time joga. É um conflito com que muita esposa/namorada vai se identificar e que é resolvido de maneira correta.
Confesso que gosto de comédia romântica e as últimas têm me decepcionado. Da safra recente, Amor em Jogo é a melhor. DifÃcil fazer sucesso numa época em que está todo mundo fugindo do cinema. Mas é um bom programa para ser visto a dois. Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 10 de setembro de 2005)