Crítica sobre o filme "Sahara":

Rubens Ewald Filho
Sahara Por Rubens Ewald Filho
| Data: 09/11/2005

Não passa de uma aventura banal, sem novidades. Muito mais curioso é o fato de que ela foi dirigida por um certo Breck, que é filho do Big Boss da Disney, Michael Eisner (que por sinal está para perder o cargo depois de 20 anos de total poder). Custou 130 milhões de dólares e não rendeu nem 70 nos EUA. Além disso, provocou uma complicada situação porque o autor do livro original, Clive Cussler, não gostou do resultado e resolveu processar os realizadores (já que ele tinha aprovação do resultado final). Ou seja, esta fita é mais curiosa por ter sido feita por um filho de multimilionário que em vez de procurar fazer um trabalho pessoal ou ousado, procurou emular o que a Disney fez de pior nos últimos anos, as superproduções de Michael Bay. E com a proposta de ser apenas a primeira de uma série de aventuras com o personagem do aventureiro Dirk Pitt (a chamada diz “A Aventura tem novo nome: Dirk Pitt”).

O problema é que o roteiro esqueceu de dar a Dirk uma personalidade mais forte, mais marcante. Melhor dizendo ele ficou pálido e inexpressivo, sem cara ou tipo. Matthew McConaughey é um ator neutro, nem feio, nem bonito, razoavelmente atlético e que nunca se compromete. Mas também não acrescenta. Não traz o carisma que um Sean Connery acrescentou a James Bond ou Harrison Ford a Indiana Jones. Portanto, resultou um personagem medíocre e convencional, sem nada que o identifique. Aliás, essa indefinição já se nota no próprio titulo do filme (houve inúmeros Saharas antes, e este aqui nem tem o deserto como paisagem tão importante, já que acontece nos rios e fronteiras do Mali). Dirk fica reduzido a um mero caçador de tesouros, que trabalha para uma organização fictícia junto com um parceiro e amigo (Steve Zahn como alivio cômico) e um chefe compreensivo (William H. Macy). Seu sonho é encontrar um tesouro que existiria num navio da Guerra Civil Americana que teria ido parar na Costa da África. Enquanto isso, se envolve com uma doutora que trabalha para a OMS (Organização Mundial da Saúde) e procura evitar uma peste na região (assim Penélope Cruz desta vez fala muito pouco e não atrapalha). Os vilões são um ditador africano sem escrúpulos que se aliou a um industrial francês (Lambert Wilson), que não tem problemas em provocar poluição com lixo atômico.

O final dele é curioso e irônico, ainda mais porque feito por agente da CIA. Rodado em locações na Espanha, Inglaterra e o tradicional Marrocos, o filme tem a tradicional dose de perseguições e explosões (ganha pique, porém, apenas nos 15 minutos finais quando se torna um pouco mais empolgante). O diretor Eisner não revela qualquer personalidade (embora tenha deixado passar uma boa frase nos diálogos quando há o comentário: “Não tem problemas, ninguém se incomoda com o que acontece com a África”. Este novo Sahara é fácil de ver, mas totalmente sem sabor ou originalidade. Muito difícil sair daqui um novo herói para filmes de aventura, e olha que mais do que nunca o cinema precisava de heróis de ação/aventura. (por Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos em 10 de junho de 2005)