Ia se chamar “Até que a Sogra os Separeâ€, mas teve que mudar na última hora porque esse tÃtulo já estava registrado por alguém de teatro do Rio. Não muda muito. Dá perfeitamente para descrever o conteúdo desta comédia apenas razoável, que ficou famosa por ter marcado o retorno ao cinema de Jane Fonda, depois de uma ausência de 15 anos.
E aà temos os problemas. Primeiro Jane não é, nem nunca foi, uma grande comediante, nunca se sentiu à vontade no gênero. Bette Midler teria ficado melhor e muito mais engraçada no papel de megera. Ela não compromete, mas simplesmente não tem grande timing de comédia. Outra coisa que me incomoda: sou da teoria de que o ator deve envelhecer com seu público, como fez Bette Davis e outras. Assim assimilamos com facilidade a mudança fÃsica, que é paralela com a nossa. Não foi o que sucedeu com Jane; a última vez que a vimos (por acaso também pessoalmente, porque ela veio ao Brasil lançar seu Old Gringo), era uma mulher bonita, atraente, ainda jovem. Agora é uma senhora. Ainda magra e esbelta, mas não dá para enganar a idade (68) que transparece na pele, nas mãos, nos pés-de-galinha, de forma cruel e evidente. Acredito que o público vá ficar um pouco chocado, como eu fiquei (tem detalhes como ela cobrir os braços com a mão, para que não vejamos o músculo flácido). E agora surpreso, diante do fato de que ter sido rainha da ginástica e do vÃdeo de exercÃcios não interrompe o processo de envelhecimento. Fora isso, o filme é razoável e previsÃvel, com um roteiro irregular (muitas coisas são criadas e depois esquecidas, como Jane tirar um cabelo de Jennifer para fazer exame).
Custa um pouco a começar e depois cai em clichês de comédia. Enfim, Jennifer Lopez, que é uma bela mulher, mas limitada como intérprete, até que se defende bem no papel novamente ingrato de uma moça pobre, meio hippie, que vive de vários empregos (inclusive levar cachorros para passear), mas consegue conquistar depois de algumas intrigas um médico bonitão e rico (Michael Vartan, de Alias, sobrinho da francesa Sylvie Vartan e menos bonitão que de costume). O problema é que a mãe dele é uma famosa e lendária apresentadora de TV que acabou de perder o emprego (isso é outro problema do filme, em vez de se agarrar no filho, uma mulher dessas lutaria com unhas e dentes para retornar, dar a volta por cima de qualquer maneira). Quando aparece a moça, ela fica louca da vida (o filme utiliza com freqüência o recurso de imaginar cenas) e faz tudo para atrapalhar o casamento (e Jennifer é boazinha demais, não dá para acreditar). Até que chega a hora do acerto de contas (e no final, tem uma participação muito divertida da grande atriz da Broadway, Elaine Stritch).
Enfim, uma comédia dessas não merece muito mais. Tem alguns momentos divertidos, não chega a aborrecer e pode ser um bom programa para casais (mulheres casadas naturalmente se identificarão mais). O trabalho do diretor australiano Robert Luketic, de Legalmente Loira e Um Encontro com seu Ãdolo, é banal e corriqueiro. O de Jane profissional. Mas sempre fica minha estranheza por uma atriz que, com uma carreira tão ambiciosa, tenha retornado ao cinema - no que poderá ser seu canto de cisne - numa fita tão descartável. (por Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos em 18 de agosto de 2005)