Por que o cinema argentino mantém tão alto padrão de qualidade?
Com certeza porque vemos apenas uma amostragem, o que eles fazem de melhor. Mas eles estão abusando, acertando em quase tudo e com grande freqüência. O que nos faz ter o maior respeito por um filme como este, do diretor do bom Histórias MÃnimas que ganhou o prêmio da crÃtica no festival de San Sebastian (o maior da Espanha) além de ter sido indicado para 7 prêmios pelos crÃticos argentinos. Inclusive porque só ao final descobrimos que ele foi protagonizado por amadores (que são o tempo todo convincentes e humanos).
Para começar, é notável pela originalidade da história. Embora a cinofilia seja um negócio de milhões de dólares, não se fazem filmes sobre o assunto (só me lembro da sátira Best of Show). O interessante do filme é pegar um personagem comum, um sujeito de 50 e poucos anos, que vive na Patagônia, que perde o emprego num posto de gasolina e não consegue outro (ele tenta vender facas cujo cabo ele mesmo faz, mas está perdendo o espaço para as importadas do Brasil). Tudo vai de mal a pior (vive com a filha numa casa pequena) quando de repente ele ganha um cachorrão, da raça Dog Andino, um bicho enorme que tem nome ridÃculo (Bombom Le Chien) mas que é forte e violento. O cão é tão vistoso que logo ele faz contato com um treinador de cachorros para exposições, que o leva a competir pela primeira vez em Bahia Blanca (eles ganhariam dinheiro não só do prêmio, mas depois, em cruzamentos com cadelas).
Mas há problemas sérios. O sócio é preso depois de uma briga e o cachorro não quer transar. Ou não sabe. Ou não gosta. Quando o filme tinha tudo para ficar trágico, ainda mais melancólico, consegue solucionar tudo de maneira muito limpa e digna. Uma fita toda discreta, matizada, sensÃvel, sobre gente comum, sem cair em folclores ou clichês.
Não sei como os argentinos fazem. Talvez seja resultado do padrão cultural deles que é sem duvida mais alto que o nosso.
O fato é que no momento seu cinema é dos melhores do mundo. Melhor do que nosso. (por Rubens Ewald Filho na seção Clássicos de 8 de agosto de 2005)