Crítica sobre o filme "2 Filhos de Francisco":

Rubens Ewald Filho
2 Filhos de Francisco Por Rubens Ewald Filho
| Data: 09/12/2005

Há algum tempo estava se criando um boca a boca em torno desta produção da Conspiração em parceria com os cantores sertanejos Zezé de Camargo e Luciano. Todos os boatos são verdadeiros. Sem preconceitos (confesso que não gosto desse estilo de música), é até agora o melhor filme nacional do ano, o mais bem resolvido e mais eficiente. Até eu, ao final fiquei emocionado, com a voz embargada. Uma excelente estréia na direção do fotografo Breno Silveira (O Homem do Ano, Eu Tu Eles, Carlota Joaquina).

Confesso que incrédulo fiquei procurando por defeitos no filme. Só mesmo com má vontade se pode reclamar um pouco da metragem um pouco longa, de um ou outro ator, que de vez em quando se engana de sotaque. Fora disso, os realizadores tomaram todas as decisões certas. É raro se ver um filme com um elenco tão bem escalado, dos protagonistas aos coadjuvantes. Acho que me ajudou na avaliação também o fato de conhecer pessoalmente a dupla Zezé de Camargo e Luciano (que é confesso apaixonado por cinema e também muito bem informado). Eles me impressionaram não apenas pelo profissionalismo, como pelo carinho que tem com os fãs, com os colegas (foram especialmente gentis com minha mãe, coisa que a gente não esquece) e até pelas qualidades vocais. Foi uma esplendida idéia não fazer um filme sobre a dupla, apenas aproveitando a popularidade deles (como sucedeu outras vezes, com Milionário e Zé Rico, por exemplo) mas contar a história de sua família, de como eles lutaram para sobreviver sem nunca desistir do sonho do pai deles, o Seu Francisco, que queria que os filhos se tornassem cantores famosos. Assim, seguindo um pouco a velha tradição dos antigos musicais de Hollywood, é a história da busca pelo sucesso, enfrentando toda sorte de problemas e dificuldades, fome necessidades até tragédias, para finalmente conseguirem o que sonharam (e ao final, vermos a dupla e os pais nos ambientes onde se desenrolou a história, já que houve a preocupação de serem o mais fieis possíveis, noventa e cinco por cento dos lugares e fatos são autênticos).

Dizem que a mãe da dupla reclamou um pouco magoada de que o roteiro tenha se concentrado demais na figura do pai, que é aquela figura obstinada que obriga os filhos a treinarem, aprenderem a tocar e cantar, quase de forma autodidata. E também um pouco cruel (apesar de no final das contas ter razão). Quem o faz é Ângelo Antonio que acerta na sua criação, certamente ajudado por Dira Paes que como sempre é uma figura repleta de dignidade e humanismo. E na trajetória deles, terá um irmão que sofre de paralisia infantil, um empresário malandro (José Dumont dá um show no papel do vigarista que primeiro perde a cabeça e depois se arrepende. Que ator magnífico!).

Depois de um reviravolta (prefiro não especificar porque poucos sabem os detalhes da vida deles), o filme se fixa na figura do filho mais novo, o Luciano que embora menos dotado, move céus e terras para dar certo (quem o interpreta é um ator estreante mas que se sai muito bem, o estreante Thiago Mendonça). Tanto ele quanto Marcio Kiesling como o Zezé Adulto, são muito parecidos com os originais, (convencendo inteiramente).

Além de bem fotografado e montado, o filme tem a mão de Caetano Veloso resultando numa trilha muito funcional e de bom gosto com a participação de Bethânia e Ney Matogrosso, dentre outros. Será uma pena se este Os 2 Filhos de Francisco atingir apenas o publico da dupla. É uma história positiva e muito bom cinema. (por Rubens Ewald Filho)