Estreando simultaneamente com os EUA, este thriller que não é baseado em nenhum best-seller como parece, mas sim inspirado em roteiro original, é assinado pelo prestigioso Sidney Pollack (Oscar por Entre Dois Amores e que fez suspenses como Três Dias do Condor e A Firma). Mas ele já dá sinais de fadiga e cansaço, numa narrativa convencional, razoavelmente interessante. Mas sem o ritmo e a intensidade que estamos acostumados na safra mais recente. Não tem edição à la Cidade de Deus, nem trilha musical urbana.
É um thriller de suspense à moda antiga, cuja maior curiosidade está justamente no fato de ter sido o primeiro filme recente que teve cenas rodadas no autêntico prédio das Nações Unidas em Nova York (além de Moçambique, África do Sul, Londres e Ontário). Ou seja, não é tão bom quanto o trailer sugere (mas nada nunca é!). Serve, porém como passatempo de fim-de-semana.
Não sei se o espectador comum irá se envolver na trama, que é sobre um genocídio fictício na África (tanto que o trailer não revela que língua a heroína identifica). Nicole Kidman está melhor do que em Reencarnação, como uma intérprete da ONU que acidentalmente ouve uma conversa em dialeto africano que a faz suspeitar de atentado quando um presidente de sua terra natal (onde nasceu e onde morreu a família e agora um irmão está desaparecido). Acontece que esse presidente havia começado como líder rebelde e como tantos antes dele havia se tornado um ditador sanguinário e cruel. Agora vem fazer discurso na ONU para se justificar (e colocar a culpa tuda nos terroristas). Sean Penn faz (até mais discreto que de costume), um agente do Serviço Secreto (com problemas porque perdeu a mulher num acidente de carro há apenas três semanas) que cuida do caso, obviamente se envolve com Nicole e tenta adivinhar as reviravoltas do enredo (já que é evidente que acontecerão algumas surpresas e reviravoltas, nenhuma delas muito convincente).
O filme começa com um prólogo na África (aliás violento e que dá um tom amargo ao que vem a seguir), antes de tomar a ação principal. Reclamei da falta de ritmo, da narrativa banal e dos clichês que atrapalham o filme. A mistura de romance, suspense e denúncia política não chega a funcionar. (por Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos em 28 de abril de 2005)