O Irlandes

Embora nao seja o melhor filme de Martin Scorcese, O Irlandes eh cinema como antigamente, na tradicao da velha Hollywood, e nao por menos um dos melhores filmes do ano eleito pelo National Board of Reviews

06/12/2019 19:27 Por Adilson de Carvalho Santos
O Irlandes

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Embora não seja o melhor filme de Martin Scorcese, “O Irlandês “ é cinema como antigamente, na tradição da velha Hollywood, e não por menos um dos melhores filmes do ano eleito pelo “National Board of Reviews”. Você concorda ou discorda ? Vejamos. 

A reunião de um “dream team” como o diretor Martin Scorcese (Bons Companheiros, Cassino) com os atores Robert De Niro, Joe Pesci, Harvey Keitel e, pela primeira vez, Al Pacino trabalhando todos juntos para trazer às telas a história real de Frank Sheeran ( personagem título) no livro “I Heard You Paint Houses” de Charles Brandt. Sheeran, o irlandês do título, foi personagem atuante em décadas de estreita relação entre máfia, sindicalistas e políticos. O título original em inglês refere-se a um código da máfia para assassinato sob encomenda, algo em que o personagem de De Niro se faz muito competente, e por isso galga degraus desde a entrega de carnes até alto posto em uma trama de lobos que é desenvolvida com um pano de fundo que inclui a ascenção de Castro em Cubra, a eleição e a morte de J.F.Kennedy, e os caminhos percorridos pelo líder sindical Jimmy Hoffa até sua misteriosa morte em 1975. Seu corpo nunca foi encontrado e a história de Sheeran apresenta o que deve ter acontecido, apesar de sua versão nunca ter sido provado na ocasião de sua morte em 2003. O roteiro de Steve Zaillan (A Lista de Schindler) consegue ao longo de suas 3 horas e meia desenvolver os personagens fazendo da tecnologia de rejuvenescimento empregada uma ferramenta justificável para a narrativa, e para os constantes congelamentos de imagens que adiantam o destino final de cada um dos cúmplices dessa trajetória de traição e ambição que remonta os bastidores da história americana.

A história de Hoffa já havia sido adaptada de forma disfarçada por Norman Jewison em 1978 em “F.I.S.T”, estrelado por Sylvester Stallone, e em 1992 em cinebiografia dirigida por Danny DeVito e protagonizado por Jack Nicholson. O Jimmy Hoffa de Pacino é intenso, explosivo e contrasta com a presença contida de Joe Pesci como o líder mafioso da Filadelfia Russell Bufalino e com o próprio De Niro, que conforma o próprio Hoffa observa em determinado momento do filme “Não mostra seus sentimentos em seu olhar”, habilidade extremamente eficiente para um “pintor de paredes”. O projeto era antigo nas mãos de Scorcese, mas nenhum estúdio parecia querer financiá-lo até que a Netflix, que busca realizar produções que lhe tragam prestígio, bancou o filme que fecha um ciclo iniciado por Scorcese em 1972 quando este lançou “Caminhos Perigosos” com Keitel e De Niro. Com um total de 8 filmes, a parceria Scorcese & De Niro alcança seu auge com uma história de grande vigor narrativo, ainda que por vezes de lentidão proposital para narrar um lado da América indigesto onde conquistas trabalhistas e atividades ilícitas, criminosas tornam-se um entrelaçado que não pode ser desfeito. Todos brilham em cena, De Niro em seus 76 anos, Pacino em seus 79 anos e Joe Pesci de 76, que recusou 50 vezes o papel de Russel Bufalino antes de ceder e se juntar ao elenco. 

Ainda que o ritmo seja lento, o filme da Neflix alcança seu objetivo de ir na contramão dos blockbusters que dominam o circuito comercial. Lançado em algumas salas de exibição para cumprir exigências da Academia, confesso minha torcida para que o filme conquiste a eligibilidade para indicação ao Oscar. O filme resgata o que faz do cinema tão fascinante quando se tem uma história em que não há acasos. A trilha sonora de fundo se silencia na sequência da morte de Hoffa, os olhares de cada um transmitem o que as palavras não conseguem, os planos de câmera nos conduzem por um túnel de história da qual também nos tornamos cúmplices graças aos talentos envolvidos, todos exímios pintores de casas. 

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Sobre o Colunista:

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com

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