Hedonismo Pleno

O fundo espiritual que ha no poeta Omar Khayyam eh profundamente hedonista

12/09/2019 13:33 Por Eron Duarte Fagundes
Hedonismo Pleno

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O fundo espiritual que há no poeta Omar Khayyám é profundamente hedonista, ou seja, é dotado de uma volúpia física que já está na escolha dos vocábulos (sim, sei, eu não conheço a linguagem da Pérsia antiga, mas devo fiar-me nos tradutores Christovam de Camargo e Rugy Basile). As Rubáiyát, coletânea de versos epigramáticos que tratam solene e também solertemente das grandes questões do universo (de então como de hoje) escritas e publicadas na Pérsia no século XI, são o que há de mais notável para definir um espírito vibrante de vida como o de Khayyám, uma alma que surpreende tenha nascido tão antigamente e no meio muçulmano mais arcaizante possível.

Em várias estrofes o poeta elege o vinho como a seiva de seu pensamento que é também um reflexo da vida autêntica. O estado de ébrio em Khayyám não é o de um bêbado tosco, mas o patamar dionisíaco da poesia e da vida. Baco se traveste de trovador oriental nas cadências verbais de Kayyám; cético e crítico, o grande homem de versos não poupa em suas discussões nem a figura altissonante da Divindade, mas este questionamento de Alá feito por Kayyám é notavelmente religioso.

A antiga Pérsia desaguou no atual Irã, cujo cinema é hoje festejado por sua espiritualidade. As influências dos poetas persas sobre as imagens do realizador iraniano Abbas Kiarostami foi objeto de referências do crítico brasileiro Jean-Claude Bernardet. Pode-se perceber que a eternidade dos cenários da terra seguem de Kayyám a Kiarostami, numa trajetória milenar.

“Afoguei-me no vinho, companheiros!/ Tornai rubro,/ cor de rubi,/ o meu pálido rosto ambarino./ A fim de que,/ ao morrer,/ seja meu corpo ungido, submergi-o no vinho!/ Impregnado de vinho/ o meu ataúde,/ decorei-o,/ nos umbrais da taberna,/ com festivos ramos da mais viçosa videira.” Vede a mestria do poeta em fazer versos em cores (rubi, ambarino) como se estivesse fazendo, séculos antes, um filme, cuja noção de fragmentos ou instantâneos é também antecipadora.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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